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Pai, temos um problema

Pai, precisamos tratar de um assunto muito sério. Eu sei que você nem imagina o que seja. Por você ser assim, sempre tão dedicado, nem passa pela sua cabeça tal acusação. Mas pai, isso tem que mudar. No começo achamos que era normal, que era o cansaço, o trabalho, o estresse. Mas pai, isso tem acontecido demais, e com tal frequência que até nossos vizinhos andam nos evitando. Outro dia Dona Arlete, do 704, passou por mim e fechou a cara. Dr. Wilson, do 501, anteontem fez a mesma. E o cachorro dele ainda tentou me morder. Até Seu Zé, o porteiro, que antes era só sorrisos, hoje não nos abre nem a porta pra passar. Tive que fazer uma cópia da chave da portaria, pois já me atrasei para o trabalho vezes demais. E até meu chefe veio se demeter na história. Estamos todos aflitos. Não conseguimos dormir várias noites. Seu problema invade nossas mentes. Invade nossos sonhos. E não conseguimos pensar em mais nada, senão nisso. É complicado, mas você precisava saber. Já esperamos tem...

Meu herói usa gravata

Quantas vezes você me salvou. De não cair da bicicleta, de colégios de freira, de ter um mau gosto musical. Quantas vezes você me pegou no colo quando o choro aumentava, quando eu me machucava, quando precisava trocar a fralda. Quantas vezes você torceu por mim nas olimpíadas do colégio, na escolha da carreira, no primeiro emprego e até quando me defendi daquele menino gordinho e maior do que eu na piscina do clube. Admiro seus poderes de ativar a super paciência, desintegrar o cansaço pra andar no shopping e fazer mercado, dos seus dedos multiplicadores de dígitos na conta bancária. Na minha, pelo menos. Também admiro seu super conhecimento sobre todos os assuntos, seu super gosto musical e seu super pão com ovo de manhã. E suas ferramentas? Dezenas de utensílios ultra secretos.   Até hoje não sei para que serve aquele scanner de cartão e nem aquela mesa cheia de botão que ficam no seu Bat-escritório. Vovó falou uma vez de quando você era pequeno e fazia de cont...

Coração verde e amarelo

Não faz muito tempo que eu via as pessoas pintarem os rostos de verde e amarelo, torcerem com fervor e se emocionarem ao ouvir do Ipiranga às margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante. Temo pela nostalgia a frente da saudade e em me tornar mais uma daquelas pessoas que dizem aos sete ventos que no meu tempo era melhor, como se esse espirituoso apego a pátria fosse ficar pra trás com o passado. Não quero perder a esperança. Quero reunir de novo a família e os amigos num caloroso domingo a tarde e ver todos de rostos pintados, vibrando, torcendo e até sofrendo. Sim, sofrendo. Sofrendo a cada ponto e cada jogo perdido, cada medalha inalcançada e cada falha do juiz, colocando ou não a mãe dele na história, pensando em como isso aconteceu e que o nosso time era melhor. Aliás, o maior de meus medos é de que todos paremos de sofrer. Será o fim do último suspiro de esperança. É o desapego tomando conta do que antes chamava-se admiração. Por isso, meu apelo não é pa...

Pátria Amada, Brazil.

– Olá. Bem vindo ao Brazil. Posso anotar o seu pedido? – Eu vou querer sustentabilidade, por favor. – Com ou sem hipocrisia? – Com. Pode Caprichar. Sexta eu estava indo para o trabalho quando me deparei com uma cena incomum: um helicóptero sobrevoava baixo e quem estava dentro portava armas enormes e as apontava para fora. Gelei. Apertei o passo. Talvez algum maníaco estivesse a solta. Vai saber. Logo em seguida, para piorar, passaram motos com policiais também armados. Muitas motos, cerca de 15. Pensei que era muito azarada. Quem mandara me atrasar? Se tivesse saído mais cedo, mas agora um maníaco estava próximo. Muito próximo. De repente, vários carros de polícia passaram, todos igualmente armados, com fuzis para fora da janela. Vinham seguidos de carros pretos intercalados aos carros azuis e brancos e de outras motos da polícia que chegavam. Quando pensei que tudo havia acabado, que eles já tinham seguido o percurso, pude então respirar mais leve e andar...

Eu mudei...

Sim, e agora é pra valer. Estou decidida. Nada de pensar no passado, nas escolhas erradas, no arrependimento. Agora sei bem o que eu quero e não vou mudar. Sei que já disse isso antes, mas agora é diferente. Tá, já disse isso antes também, mas agora é sério mesmo. Não me olha com essa cara. Eu sei que você nem me conhece, que não sabe o quão decidida eu sou. Mas pode confiar. Não vou mais mudar de ideia. Vamo lá, eu vou querer três esfihas de carne, duas de queijo, um croquete e uma coca media.  Pra viagem, por favor.