Não faz muito tempo que eu via as pessoas
pintarem os rostos de verde e amarelo, torcerem com fervor e se emocionarem ao
ouvir do Ipiranga às margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante.
Temo pela nostalgia a frente da saudade e
em me tornar mais uma daquelas pessoas que dizem aos sete ventos que no meu
tempo era melhor, como se esse espirituoso apego a pátria fosse ficar pra trás
com o passado.
Não quero perder a esperança. Quero reunir
de novo a família e os amigos num caloroso domingo a tarde e ver todos de
rostos pintados, vibrando, torcendo e até sofrendo.
Sim, sofrendo.
Sofrendo a cada ponto e cada jogo perdido,
cada medalha inalcançada e cada falha do juiz, colocando ou não a mãe dele na
história, pensando em como isso aconteceu e que o nosso time era melhor.
Aliás, o maior de meus medos é de que todos
paremos de sofrer. Será o fim do último suspiro de esperança. É o desapego
tomando conta do que antes chamava-se admiração.
Por isso, meu apelo não é para que todos
ignorem os problemas que o Brasil vive hoje. Não peço para que em 2016 todos
finjam que está tudo bem e que o ano inteiro é carnaval só para que todos
pensem que aqui é um lugar maravilhoso e que não existem problemas.
Mas afinal, quem não tem? Que nação não tem
problemas?
Estou cansada desse complexo de
inferioridade que tem o brasileiro. De pessoas que acham que só aqui tem
corrupção, violência e desigualdade.
Não que esses problemas tenham de ser
ignorados, mas pensar que eles só existem por aqui, que só nós brasileiros
vivemos esses problemas é estigmatizar demais a nós mesmos.
Meu apelo é para que todos os que também se
sentem como eu, ao invés de ficarem relembrando o passado de um jeito
nostálgico, possam revivê-lo em 2016 e ter orgulho do seu país, da sua origem,
da sua lingua e dos seus costumes.
Afinal, antes de qualquer problema
estrutural e governamental, esses vieram antes e melhor, fazem e sempre fizeram
parte de você.
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