Quando eu era pequena
dizia pra minha mãe que, quando eu crescesse, queria ser "aquelas moças
que andam de patins no mercado".
Toda vez que meu pai
levava eu e minha irmã para tirar sangue, a gente perguntava: pai, vai doer?
Ele falava: minha filha, não vou mentir pra você, vai doer, mas é rapidinho, e
logo depois levo vocês pra tomar sorvete. Eu e minha irmã deixavamos umas
lagrimazinhas correrem bem tímidas e sem gritar... mas assim que a enfermeira
tirava a agulha era automático: "pronto pai, agora vamos tomar
sorvete?"
Quando a gente é
criança a gente fica tão feliz com tão pouquinho né? Quem dera que nós
crescessemos e continuasse sendo assim, um sorvete compensasse qualquer dor.
O mais incrível em
ser criança é não ter que ter responsabilidades, não conhecer a maldade, não
saber que existem no mundo pessoas cruéis, não como os vilões dos desenhos que
são obviamente ruins, mas pessoas aparentemente bem intencionadas, só que sabem
enganar, mentir. Criança não sabe disso. Criança sabe brincar no parque, sabe
andar de bicicleta de rodinha, sabe que no fundo daquele sorvete em forma de
cone tem um chiclete.
Criança acha
divertido se sujar, acha que aquele desenho que fez da casa, da árvore e do
bonequinho de palito todos do mesmo tamanho é uma obra de arte.
Mas nunca vou dizer
que as crianças não têm preocupações. Elas têm sim, só são bem diferentes das
nossas.
Uma vez eu estava
brincando no parquinho de areia, quando uma das meninas da minha sala me
empurrou e jogou areia na minha cabeça. Eu chorei o dia inteiro. Minha mãe veio
me buscar no colégio e eu falava pra ela: "ai mãe, meu coraçãozinho tá
doendo tanto, faz ele parar". Lembro até hoje, era uma dor incomoda e não
passava.
Eu, você, todos já
fomos crianças um dia. A gente já caçou tatuí na praia, já vimos pela primeira
vez um leão no zoológico, já caimos de bunda no chão e doeu.
Um conselho que eu
posso dar hoje é: nunca esqueça da criança que você foi. Ela faz parte de quem
você é hoje. Lembre-se que um dia você também se contentava com um sorvete em
frente a dor, também achava que seu rabisco era uma obra de arte e também
acreditava na bondade das pessoas.
Comentários
A única parte boa nisso é que, você se torna um adulto mais concisso do que as pessoas com quem você foi criada, e vai cuidar muito bem de seus filhos, sobrinhos, netos ou de qualquer criança que necessite do carinho, amor e presença que você não teve. A pior parte é que você também pode se tornar o Tony Montana, personagem do Al Pacino no Scarface.
Tratar bem uma criança, sem restrições bestas, fará com que ela se torne algo de que o mundo tanto precisa. Do contrário, ela irá achar que todos roubaram o pouco que ela sempre teve e que foi deixada com nada mais do que a dor.
Lindo o seu blog, Carol. ;)
tadinho do coraçãozinho que ficou doendo, que fofaaaaaaa!
E quando o tempo corre, claro, a gente percebe que o parece ter ficado lá atrás estava aqui o tempo todo; nossa essência.